​Em junho de 2022, durante uma viagem a Europa, fui à feirinha de Notting Hill, em Londres, adquiri um filme 35mm Kodak Tri X Pan de um simpático vendedor grego. Sua loja, especializada em itens analógicos antigos, estava prestes a fechar, e o filme, encontrado em uma bacia cheia de rolos vencidos, trazia consigo uma aura de mistério. Sem informações precisas sobre a época do filme, o vendedor estimou que poderia ser dos anos 60.

​Usei o filme sem saber o que ele já carregava, e o filme revelou, além das minhas próprias fotografias, imagens de uma ferrovia desconhecida, resultado de uma dupla exposição acidental. Essa série de fotos explora a fusão entre tempos distintos, onde meu registro de momentos pessoais se entrelaça com um passado misterioso, preservado em imagens de outra pessoa, que permanecem como vestígios de uma memória visual perdida.

A sobreposição das imagens cria uma narrativa que atravessa espaços e épocas, conectando o presente ao desconhecido. As fotos revelam histórias que se cruzam, ecoando as complexas relações entre tempo, memória e sentimento, tão próprias da fotografia analógica e suas infinitas possibilidades de significação.